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segunda-feira, 3 de junho de 2019

#Na Rua Especial


Papo de carona
Leopoldo é um mal-humorado taxista, tem o costume de conversar apenas o necessário com seus clientes. Nem sempre foi assim, costumava ter os debates mais acalorados sobre tópicos que começavam em desenho animado e terminavam em política.
            Leo (como é chamado por seus familiares Leopoldo) mudou depois de começar a dar carona pela movimentada Cidade Tiradentes, sempre que tentava puxar assunto com os insanos moradores era surpreendido por alguma teoria da conspiração por causa de um mercado que trocou de nome ou um relato absurdo de assalto.
            No dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, o taxista faturava com cidadãos que comemoravam a data sem saber o porquê. Foi nessa ensolarada ocasião que Leo quebrou uma de suas regras pessoais, deu carona a um homem em frente ao supermercado Extra (antigo Barateiro). O motivo da auto desobediência foi à cara de “bacana” e a bagagem do viajante. “Esse tá fisgado” pensou Leo.
            -Boa tarde - disse o viajante com notável empolgação – Vou para o aeroporto mais próximo, finalmente voltarei para terra de minas! Joaquim, aliás!
            -Boa, Joaquim – respondeu como de costume o motorista.
            A viagem foi horrível para Leo, Joaquim não parava de falar sobre como era um bom dentista, tinha até um apelido engraçado que lhe havia fugido da memória. Leo notou inúmeras cicatrizes que eram facilmente perceptíveis.
            Antes de sair, o mineiro disse uma enigmática frase que não chamou a atenção de Leo a princípio:
            -Agora que eu tô junto, posso enfim ser livre!
            Leopoldo achou que era alguma gíria mineira e não deu importância. Foi ligar os pontos somente no final da tarde, enquanto lia um panfleto sobre Tiradentes, as coincidências espetaram seus escassos cabelos, a única coisa que conseguiu dizer foi:
            -Cadê a minha aposentadoria que não chega?
Kaynã
Equipe Imprensa Jovem do Maurício

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