Papo de carona
Leopoldo é um
mal-humorado taxista, tem o costume de conversar apenas o necessário com seus
clientes. Nem sempre foi assim, costumava ter os debates mais acalorados sobre
tópicos que começavam em desenho animado e terminavam em política.
Leo (como é chamado por seus familiares Leopoldo) mudou
depois de começar a dar carona pela movimentada Cidade Tiradentes, sempre que
tentava puxar assunto com os insanos moradores era surpreendido por alguma
teoria da conspiração por causa de um mercado que trocou de nome ou um relato
absurdo de assalto.
No dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, o taxista faturava
com cidadãos que comemoravam a data sem saber o porquê. Foi nessa ensolarada
ocasião que Leo quebrou uma de suas regras pessoais, deu carona a um homem em
frente ao supermercado Extra (antigo Barateiro). O motivo da auto desobediência
foi à cara de “bacana” e a bagagem do viajante. “Esse tá fisgado” pensou Leo.
-Boa tarde - disse o viajante com notável empolgação –
Vou para o aeroporto mais próximo, finalmente voltarei para terra de minas!
Joaquim, aliás!
-Boa, Joaquim – respondeu como de costume o motorista.
A viagem foi horrível para Leo, Joaquim não parava de
falar sobre como era um bom dentista, tinha até um apelido engraçado que lhe
havia fugido da memória. Leo notou inúmeras cicatrizes que eram facilmente
perceptíveis.
Antes de sair, o mineiro disse uma enigmática frase que
não chamou a atenção de Leo a princípio:
-Agora que eu tô junto, posso enfim ser livre!
Leopoldo achou que era alguma gíria mineira e não deu
importância. Foi ligar os pontos somente no final da tarde, enquanto lia um
panfleto sobre Tiradentes, as coincidências espetaram seus escassos cabelos, a
única coisa que conseguiu dizer foi:
-Cadê a minha aposentadoria que não chega?
Kaynã
Equipe
Imprensa Jovem do Maurício
0 comentários:
Postar um comentário