A
conspiração – parte 3
Daniel
repensava o plano inteiro que lhe fora passado somente na véspera do grande
dia, isto enquanto olhava para o dia escaldante do interior do carro
enferrujado de Leopoldo.
O plano era simples, porém,
arriscado. Leopoldo se entrosaria entre os pintores que estavam retocando o
vívido vermelho do supermercado, o macacão sujo e um daqueles “cintos de
utilidades” (dos quais eu não tenho conhecimento da denominação correta)
bastavam para se misturar entre os desatentos trabalhadores. Quando
questionado, Leopoldo revelou-se um mestre dos disfarces, nem sequer era um
morador de rua, apenas um aposentado com muito tempo livre.
A descoberta quase fizera Daniel
desistir do plano, pode não aparentar grande caso, mas consideramos que os motivos
do jovem ter dado ouvidos ao velho em primeiro lugar indo a busca por
conhecimento e principalmente a compaixão, a sensação de poder ser o último
ouvinte das diversas histórias que apenas uma alma fatigada pode oferecer
alegrava Daniel. Além disso, as constantes palavras de baixo calão (digamos
assim) que eram direcionadas aos supostos inimigos de Leopoldo pelo próprio,
estavam começando a dar nos nervos do rapaz, que estava fazendo aquilo pela
aventura, não para declarar guerra aos soviéticos ou algo do tipo.
Uma breve ida ao melhor “podrão”
(cachorro quente para leigos) foi o suficiente para Daniel afundar muitas
mágoas, mas ainda assim, Leopoldo precisou resolver a questão das ofensas:
- O que você quer que eu faça? Um
pote das palavras ruins? – Sugeriu ironicamente.
- Boa ideia – Respondeu Daniel
surpreendentemente sério.
Para aqueles que não estão
familiarizados com o conceito, o pote recebe dez reais a cada palavra chula
evocada. Esse orçamento foi responsável por financiar os equipamentos usados na
missão.
Retomando o mirabolante plano, ainda
não foi explicada a tarefa de Daniel, o garoto entraria discretamente na
barraca do Ragazzo (que não estava funcionando na ocasião) através de uma
suspeita mala deixada por Leopoldo, pois apesar de incrível, o cinto de
utilidades não tinha espaço para adolescentes. Por sorte, Leopoldo passaria
despercebido pelos pintores exaustos.
Resumidamente, Daniel tinha dois
deveres: se infiltrar e investigar a recente construção verde e chegar em casa
antes de sua mãe retornar de uma viagem à trabalho.
Ele estava determinado!
Continua...
Kaynã
Equipe
Imprensa Jovem do Maurício
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