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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

#Na Rua Especial


A conspiração – parte 3
Daniel repensava o plano inteiro que lhe fora passado somente na véspera do grande dia, isto enquanto olhava para o dia escaldante do interior do carro enferrujado de Leopoldo.
            O plano era simples, porém, arriscado. Leopoldo se entrosaria entre os pintores que estavam retocando o vívido vermelho do supermercado, o macacão sujo e um daqueles “cintos de utilidades” (dos quais eu não tenho conhecimento da denominação correta) bastavam para se misturar entre os desatentos trabalhadores. Quando questionado, Leopoldo revelou-se um mestre dos disfarces, nem sequer era um morador de rua, apenas um aposentado com muito tempo livre.
            A descoberta quase fizera Daniel desistir do plano, pode não aparentar grande caso, mas consideramos que os motivos do jovem ter dado ouvidos ao velho em primeiro lugar indo a busca por conhecimento e principalmente a compaixão, a sensação de poder ser o último ouvinte das diversas histórias que apenas uma alma fatigada pode oferecer alegrava Daniel. Além disso, as constantes palavras de baixo calão (digamos assim) que eram direcionadas aos supostos inimigos de Leopoldo pelo próprio, estavam começando a dar nos nervos do rapaz, que estava fazendo aquilo pela aventura, não para declarar guerra aos soviéticos ou algo do tipo.
            Uma breve ida ao melhor “podrão” (cachorro quente para leigos) foi o suficiente para Daniel afundar muitas mágoas, mas ainda assim, Leopoldo precisou resolver a questão das ofensas:
            - O que você quer que eu faça? Um pote das palavras ruins? – Sugeriu ironicamente.
            - Boa ideia – Respondeu Daniel surpreendentemente sério.   
            Para aqueles que não estão familiarizados com o conceito, o pote recebe dez reais a cada palavra chula evocada. Esse orçamento foi responsável por financiar os equipamentos usados na missão.
            Retomando o mirabolante plano, ainda não foi explicada a tarefa de Daniel, o garoto entraria discretamente na barraca do Ragazzo (que não estava funcionando na ocasião) através de uma suspeita mala deixada por Leopoldo, pois apesar de incrível, o cinto de utilidades não tinha espaço para adolescentes. Por sorte, Leopoldo passaria despercebido pelos pintores exaustos.
            Resumidamente, Daniel tinha dois deveres: se infiltrar e investigar a recente construção verde e chegar em casa antes de sua mãe retornar de uma viagem à trabalho.
            Ele estava determinado!
                                                                                                                      Continua...
Kaynã
Equipe Imprensa Jovem do Maurício

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