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domingo, 24 de abril de 2016

#CantinhodaCultura

Literatura em forma de luta
“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.” 
-CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Quando se fala em resistência cultural à ditadura, é bem provável que venha à cabeça um conjunto de músicas, filmes e peças de teatro. A literatura parece ter ocupado um lugar secundário. Ledo engano! A literatura teve um papel importante entre as artes de resistência. 
A literatura era, historicamente, a área de atuação por excelência do intelectual engajado, que se utilizava de várias formas de escrita (ensaios, crônicas, contos, romances), para transmitir ideias e intervir no debate sobre a sociedade e as liberdades públicas. Não foi diferente no Brasil do regime militar, apesar de outras áreas artísticas como o teatro, o cinema e a música popular, terem conseguido maior destaque junto ao grande público. Inclusive, as artes ditas “de espetáculo” (teatro, cinema e música) se tornaram mais “literárias”, incorporando de maneira criativa em suas obras mais sofisticadas a tradição da literatura culta da prosa e da poesia.
A crítica literária dos anos 1970 anunciava a “crise do romance”, portadora de certa fragmentação da linguagem e do fluxo narrativo que é própria ao gênero. A crise desse gênero literário seria a expressão da crise do intelectual como “homem-de-letras”, que tradicionalmente pensava o mundo como se estivesse fora dele.
As grandes respostas literárias dos anos 1970 à ditadura militar, no campo da ficção, retomaram a narrativa realista, mas evitando uma visão onisciente do narrador tradicional, trabalhando-a como se fosse um documentário cinematográfico. As expressões mais notórias e contundentes disso foram “Em Câmara Lenta” (de Renato Tapajós) e “A Festa” (de Ivan Ângelo).
A crítica literária nos anos 1970 produziu importantes revisões analíticas da história do Brasil a partir do estudo da literatura (prosa e poesia). Desde os textos clássicos de Antonio Candido, “Dialética da Malandragem” e “Literatura e Subdesenvolvimento”, passando pelo também clássico “As ideias fora do lugar”, de Roberto Schwarz, ou “Ser e o tempo na Poesia”, de Alfredo Bosi, a crítica literária acadêmica protagonizou um debate intenso e inovador. Esses autores revisaram temas ligados aos conflitos sociais, ao nacionalismo, ao papel histórico da ideologia liberal no Brasil, à subjetividade do fato literário e sua importância para a resistência contra o autoritarismo.
Portanto, a literatura durante o regime militar propiciou uma gama de “consciências literárias” sobre a experiência histórica, não porque imitou a realidade nos livros, mas porque, em muitos casos, só a reflexão propiciada pela ficção, pela imaginação ou pela memória poderia dar conta de compreender uma realidade política, cultural e social tão multifacetada e complexa.
http://memoriasdaditadura.org.br
              
Não aceite provocações!
Evelyn
Equipe Blog do Maurício

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