O teatro feito durante o regime militar, apesar de ter tido menos público do que o cinema e a música popular, propiciava o encontro físico com a plateia, que muitas vezes comungava os valores críticos à ditadura. A classe teatral esteve entre os principais alvos da repressão, mesmo na fase inicial da ditadura, quando as liberdades individuais dos artistas estavam razoavelmente garantidas.
Com a tomada do poder pelos militares em 1964, o teatro brasileiro começou a amargar talvez um dos piores momentos da sua história devido à repressão e à censura exercidas pelo regime autoritário. E essa situação só iria piorar após a promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), pelo então presidente da República, Marechal Costa e Silva, em 13 de dezembro de 1968.
Quando o regime endureceu, a censura e a repressão à produção cultural se intensificaram, foi gerado o que o escritor Alceu Amoroso de Lima classificava como “terrorismo cultural”, já que qualquer tipo de expressão cultural, seja recitada, cantada, escrita ou representada, era motivo para perseguição por parte do governo militar. Quase nada passava desapercebido. Pior, a ameaça a artistas e intelectuais passou a ser também física. Em 1968, durante uma das apresentações da peça Roda Viva, de Chico Buarque, dirigida por José Celso Martinez, o espetáculo foi atacado pelo terrorismo paramilitar do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). A peça que contava a história da ascensão e a queda de um ídolo, preenchido com paródias bíblicas e com cenas antropofágicas, resultou em atores espancados e cenários destruídos pelos integrantes do CCC.
Não fosse o lado rígido e trágico, o saldo do período poderia ser considerado cômico, tantas foram as trapalhadas da censura na hora de lidar com a liberdade de expressão. O regime vetou uma apresentação do Balé Bolshoi, companhia de dança estatal da União Soviética comunista. Filmes de Kung-fu foram proibidos por serem acusadas de conter mensagem maoista. O poeta Ferreira Gullar uma vez teve uma pasta com artigos apreendida em sua casa e acredita que a inscrição na capa "Do cubismo à Arte Concreta", foi interpretada pelo oficial do exército como uma referência a Cuba. Até a dupla Dom e Ravel que havia feito sucesso com a música "Eu Te Amo meu Brasil", hino ufanista que mereceu cumprimentos pessoais do presidente Médice, teve de se explicar aos censores.
O governo Geisel com a sua promessa de abertura lenta, gradual e segura, fez com que artistas e intelectuais esperassem um certo alívio na repressão cultural. Esqueceram de combinar com o então ministro da Justiça, Armando Falcão. Em sua gestão, continuaram a ser expedidas dezenas de portarias cortando trechos de filmes, riscando faixas de discos ou vetando obras inteiras. Compositores, cineastas, escritores, jornalistas e dramaturgos se esmeravam em usar a criatividade para driblar os censores.
Zé Celso no relato que enviou à Comissão de Anistia em 8 de dezembro de 2004.
"Eu e o teatro fomos assassinados socialmente. A própria sociedade brasileira, os jovens que começavam a fazer teatro nestes anos, achavam que eu tinha morrido e muitos decretaram a morte do Teatro Oficina. Os quinze anos foram de uma luta enorme para acreditar que nós tínhamos resistido à repressão, à tortura e para provar a mim mesmo que eu estava vivo de novo. Não falava quase em tortura ou repressão, somente em atos teatrais, para não virar vítima e tocar a criação adiante. Reaberto o teatro foram mais de 10 anos de muito sucesso, mas de muita luta para provar ao próprio público do Oficina dos anos 60 que nós tínhamos ressuscitado e estávamos fazendo um trabalho de tanto ou mais valor do que nos anos 'dourados' "
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"É hora de toda nossa produção intelectual, cultural e artística poder se manifestar livremente sem que dependa de boa vontade e de favores políticos."
Evelyn
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Equipe Blog do Maurício
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