Ferreira Gullar – Grande nome de nossa literatura
Ferreira
Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, é
um dos nomes mais representativos da moderna literatura brasileira. Sua extensa
e diversificada produção literária e teórica fez do escritor um dos mais
importantes poetas e críticos de arte brasileiros da atualidade. Nasceu no dia
10 de setembro de 1930 e foi no ano de 1940, em São Luís, Maranhão (sua terra
natal), que teve início sua carreira poética, cujo sucesso o conduziria a uma
das cadeiras da Academia Brasileira de Letras em 2014.
O primeiro livro de poesias, Um pouco acima do chão,foi
publicado em 1949 quando o poeta tinha apenas dezenove anos. Nessa fase,
Gullar, em período de formação, mostrou-se influenciado pelas estéticas
simbolistas e parnasianas. Posteriormente, no início da década de 1950,
escreveu os poemas de A luta
corporal, livro no qual é possível notar certa semelhança com a
poesia dos poetas paulistas que, em 1956, lançaram o Concretismo. Explorando
propriedades gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as
convenções da lírica tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira
circunstancial o Movimento Concretista ,
do qual se afastou por causa de discordâncias em relação às suas propostas
teóricas. Abandonou as experiências de vanguarda e engajou-se na política por
meio do Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda
criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter
coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do
artista.
Não
há vagas
O preço
do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O
funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque
o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe
no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema,
senhores,
não fede
nem cheira
não fede
nem cheira
Nessa mesma década, 1960, a poesia de
Ferreira Gullar já mostrou um estado de alta tensão psíquica e ideológica: seus
textos, independentemente dos temas abordados, são participantes, isto é,
engajados, evidenciando a preocupação do poeta com as mazelas sociais e,
sobretudo, a preocupação em contribuir para a transformação da sociedade
brasileira. Por sua intensa participação política, foi perseguido pela Ditadura
Militar e, no exílio em Buenos Aires, escreveu Poema sujo,
considerado uma obra-prima da literatura brasileira. Gravado em uma fita
cassete, o poema foi trazido para o Brasil pelo amigo, o também poeta Vinícius
de Moraes, e no ano de 1976 foi, finalmente, publicado.
Curiosamente, o reconhecimento da importância de sua obra aconteceu apenas na década de 1990, período em que foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, entre os quais o Prêmio Jabuti (o mais importante prêmio literário do Brasil), o Prêmio Machado de Assis (oferecido pela Academia Brasileira de Letras) e o Prêmio Camões (concedido pelos governos do Brasil e de Portugal a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa), além de uma indicação ao Prêmio Nobel de Literatura no ano de 2002. Paralelamente à produção poética, Ferreira Gullar construiu uma sólida obra teórica e crítica no campo das artes visuais, na qual reviu antigas posições (principalmente em relação ao uso da poesia como instrumento de conscientização social) e tratou de questões referentes à arte contemporânea produzida no Brasil e em outros países.
Curiosamente, o reconhecimento da importância de sua obra aconteceu apenas na década de 1990, período em que foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, entre os quais o Prêmio Jabuti (o mais importante prêmio literário do Brasil), o Prêmio Machado de Assis (oferecido pela Academia Brasileira de Letras) e o Prêmio Camões (concedido pelos governos do Brasil e de Portugal a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa), além de uma indicação ao Prêmio Nobel de Literatura no ano de 2002. Paralelamente à produção poética, Ferreira Gullar construiu uma sólida obra teórica e crítica no campo das artes visuais, na qual reviu antigas posições (principalmente em relação ao uso da poesia como instrumento de conscientização social) e tratou de questões referentes à arte contemporânea produzida no Brasil e em outros países.
Infelizmente
faleceu na semana que passou, mas deixou suas obras para que possamos repensar
sobre a vida.
Descanse em
paz e para nós que possamos conhecer suas obras.
Evelyn
Equipe Blog do
Maurício
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