A
Cultura do Turbante
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O significado deste adorno
tão especial para a cultura africana diz muito sobre o processo de formação da
nossa própria cultura. Conhecer as origens culturais do turbante através do tempo
e discutir a apropriação cultural deste elemento tão rico é também uma forma de
reconhecer e valorizar a nossa identidade afro-brasileira.
Usar o turbante
especialmente para as culturas africanas, afro-americanas e afro-brasileiras é
também um símbolo de resistência ao aculturamento, de afirmação de sua
identidade cultural e de luta contra a discriminação e o preconceito racial. A
questão é cultural e um ato político, que vai muito além da moda e do estilo.
Entender
a história cultural do turbante, principalmente o africano é se reconectar com
nossas origens, com o processo de formação da cultura brasileira e mundial,
visto que o Brasil recebeu influências de vários continentes, desde os
portugueses europeus até o povo africano e suas várias culturas.
De onde vem?
A origem do turbante é
desconhecida, mas sabe-se que já era usado no Oriente muito antes do surgimento
do islamismo. Lá, ele é usado pelos homens e tem a função religiosa de
demonstrar e reforçar a fé. Infelizmente, depois do atentado de 11 de setembro,
o uso desse tipo de turbante no exterior também é associado com o terrorismo.
No Oriente, não são apenas
os islâmicos que usam o turbante como símbolo da fé. Os adeptos da religião
monoteísta indiana Sikh, também fazem uso desse adereço. Nesta religião, os
homens e mulheres não devem cortar os cabelos e sim utilizar os turbantes para
envolvê-los. Na Índia, eles ainda são utilizados para proteger a cabeça do
clima severo do deserto e representam a casta de quem o usa, o status
financeiro e a religião.
África
Na África, o turbante é
parte da cultura do povo, onde os costumes e roupas tradicionais traziam
tecidos enrolados no corpo e os turbantes fazem parte dessa indumentária
complementando o conjunto. Eles são usados por homens e mulheres e cada amarração
e torção tem um significado diferente.
O Ojá é um tipo de torço
ou turbante usado na cabeça nas religiões tradicionais africanas, religiões
afro-americanas, religiões afro-brasileiras, podendo ser de vários tipos e
cores. Os turbantes têm funções sociais, religiosas e claro, fazem parte da
moda e do estilo africano.
Nas religiões africanas, o
turbante é um elemento e elo com a nossa dimensão espiritual. O uso do turbante
e suas variadas cores carregam significados profundos. Ele é usado para
proteger a cabeça que simboliza os pensamentos e a fé no divino.
Brasil
No Brasil, o uso do
turbante foi introduzido pelos negros vindos da África através do tráfico de
escravos. As mucamas usavam saias, blusas leves e soltas, panos e xales nas
costas e turbantes nas cabeças. Os tecidos podiam ser coloridos ou não. As
roupas não eram muito diferentes dos costumes usados no país de origem, mas
pela condição de escravo, o vestuário era limitado. Entretanto, os costumes e
vestimentas africanos eram reproduzidos no Brasil, distinguindo e afirmando a
identidade cultural negra.
O uso de turbantes no
Brasil é muito comum no Estado da Bahia, em Salvador, cidade do mundo fora da
África que tem uma forte tradição da cultura negra, devido a grande quantidade
de escravos africanos que foram trazidos para o país. As culturas Hausa e Yourubá
trouxeram seus costumes e cultos que foram amplamente introduzidos e misturados
ao caldeirão cultural brasileiro.
Miscigenação e apropriação
cultural
Quando queremos afirmar
nossa cultura com toda a força que ela tem não podemos deixar de lado as nossas
influências vindas de outros países, simplesmente porque elas são parte,
processo, ingredientes principais do nosso cozido brasileiro. Não podemos falar
do Brasil sem falar da África, de Portugal, dos índios brasileiros e de quem
nos tornamos.
O nosso país é fruto de
uma miscigenação entre povos e culturas bem diferentes. Apropriamos da cultura
um do outro no passado e no presente. Este é um processo irreversível, é
natural e pode ser muito rico, se feito como uma troca, um enriquecimento
cultural e histórico. A apropriação cultural é indevida somente quando se toma
a cultura do outro como sua. E não se reconhece e valoriza o outro.
No Brasil, ainda
precisamos lutar muito pela valorização da cultura negra, ainda que tenhamos um
país maritalmente de negros e afrodescendentes. Enquanto o preconceito racial
sobreviver por aqui, seja pela falta de auto aceitação, ignorância e
intolerância, é preciso reafirmar, cultivar e promover nossas origens culturais
como um ato político, antes de tudo.
A História da África é de
um continente ainda muito frágil politicamente, desde o tráfico negreiro até os
conflitos civis atuais, que envolvem interesses políticos e grupos religiosos.
É preciso compreender que a cultura africana, embora seja riquíssima e tenha
conexões com países de quase todo o mundo, ela também carrega uma história de
dores, preconceito e discriminação.
A África é um continente
que espalhou sua cultura pelo mundo muito antes da globalização, dos
computadores e da internet. Essa cultura tão forte, tradicional e marcante tem
influenciado e proporcionado trocas culturais valorosas em todo mundo.
Para o povo africano e
afrodescendentes de todo mundo, o turbante é a busca pela tradução da
valorização de sua identidade. Como qualquer elemento da moda, ele partiu da
evolução das indumentárias, e tornou-se um acessório na moda através dessa
transformação, mas sem perder seu valor cultural.
No Brasil, especialmente,
somos afrodescendentes da cabeça aos pés, seja na comida, na música, na dança,
nos costumes, no vocabulário ou na moda.
Evelyn
Equipe Blog do Maurício
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