Caio Fernando Abreu
brasilescola.uol.com.br
Dramaturgo,
romancista, cronista, contista e poeta.
Caio Fernando
Abreu, um dos mais populares
e importantes escritores da Literatura brasileira, mas a verdade é que ele
também possui uma obra poética, obra pouco conhecida e explorada. Consagrado
por sua prosa, Caio transitou por diferentes gêneros, mas a poesia manteve cuidadosamente
guardada em diários por achar que elas não possuíam valor literário.
Basta
ler um único poema para perceber que o escritor, conhecido por seu
perfeccionismo, estava errado. Embora sua prosa seja altamente poética, os
versos escritos por Caio exprimem sua veia lírica de maneira incomparável.
Assim como tudo que escreveu, os poemas do escritor que é altamente
parafraseado nas redes sociais são viscerais e tratam de assuntos que permeiam
toda sua obra, como o amor, a dor, a paixão, a solidão, a morte, o desejo,
entre outros, sempre abordados por meio de uma linguagem transgressora e muito
próxima da coloquialidade.
Os poemas permaneceram inéditos durante
dezesseis anos, quando enfim foram publicados. Infelizmente, o livro Poesias nunca publicadas de Caio
Fernando Abreu, que
compila cento e dezesseis poemas escritos entre os anos de 1960 e 1996, ano de
sua morte, está fora de catálogo, mas deixarei alguns trechos desse livro para
vocês aproveitarem e se afogarem nas belas palavras de Caio Fernando Abreu. Boa
leitura!
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor
interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que
doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando
uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira,
uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e
sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada
seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando
estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo
uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir
naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar
da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo
tudo para o alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza
de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez
loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez
não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está
aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso
vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor
insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para
uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um
movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.
E eu me pergunto se viver não será essa
espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre
sede no fim.
Evelyn
Equipe Blog do Maurício
0 comentários:
Postar um comentário