A sua vida, assim como toda sua obra, é marcada pelo bom humor e
a criatividade, começando pela escolha de seu “nome artístico”. Na realidade,
Adoniran Barbosa não era o seu nome de batismo, mas João Rubinato. Ele achava
que João Rubinato não era nome de cantor de samba, tinha de ser algo mais
“abrasileirado”. Resolveu mudar. De um amigo pegou emprestado Adoniran e, em
homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome. Naquele momento de
meados do ano de 1933 nascia Adoniran Barbosa.
Adoniran Barbosa, filho
de imigrantes italianos pobres, nasceu na cidade de Valinhos no ano de 1910,
tendo passado muitas necessidades praticamente em toda sua infância. Teve de
largar a escola para ajudar na renda familiar fazendo bicos ou trabalhos informais.
Esse fato marcaria decisivamente a sua vida. Digo isto, pois Adoniran Barbosa
era semi-alfabetizado, o que dificultou sua entrada no mercado de trabalho em
São Paulo, cidade onde começou a morar no ano de 1932.
É muito comum para as
famílias de periferia, acontecer este fenômeno dos filhos abandonarem os
estudos escolares para ajudar na parca renda familiar. A (i)lógica da sociedade
capitalista, onde poucos possuem muito e muitos possuem muito pouco, faz com
que as pessoas se submetam a viver nos limites. Limite do desespero, limite da
sobrevivência e limite de abandonar os estudos (conhecimento) para cair de cara
no mundo, sem perspectiva de vida ou compreensão dos motivos que o levam a este
estado.
Existem várias maneiras
em que as massas lidam com esta situação de limite, através da violência, da
subordinação às leis excludentes, da organização coletiva (partido ou movimento
social), ou utilizando a arte. A arte é uma forma em que o artista representa o
seu mundo, ou seja, ela pode ser entendida como uma expressão da realidade,
pois o artista faz parte desta, sendo sujeito ativo.
Para a população pobre,
o mercado de trabalho é o local onde será feita sua sobrevivência,
diferentemente para os ricos, que a consideram como local de enriquecimento.
Sendo assim, Adoniran Barbosa, teve muita dificuldade para entrar no mercado de
trabalho paulistano, mas tinha desenvolvido algo que o consagraria: a arte.
Apesar de ter passado por muito sofrimento na sua infância pobre, a convivência
que teve nas “malocas”, possibilitaram-no além de uma musicalidade, um humor
que era cômico e sarcástico.
Portanto, o humor no
rádio e depois na música foram os meios encontrados por Adoniran Barbosa, na
difícil sobrevivência no urbano paulistano. Um aspecto marcante tanto nos seus
personagens humorísticos do rádio (que fez muito sucesso nos anos 40 ao 60),
como nas suas letras de música, foi o “humor reflexivo” que era trágico e
melancólico.
O seu humor era
“reflexivo”, pois ele fazia as pessoas pensarem sobre o seu cotidiano. Ele não
admitia, mas indiretamente ou inconscientemente era um militante social,
fazendo as massas refletirem sobre seu estado.
Somente nos anos 50,
Adoniran Barbosa assume e reproduz intencionalmente os erros gramaticais nas
letras de música. O maior fator para esta mudança, foi o convívio com o Grupo de
samba “Demônios da Garoa”. Este grupo, no qual conhece durante o trabalho na
Rádio Record, grava alguns sambas que ganham alguns concursos de música em São
Paulo. No ano de 1954, os “Demônios da Garoa” cantam pela primeira vez a música
“Saudosa Maloca” de uma maneira diferenciada, colocando erros gramaticais na
letra, com intenção de reforçar o lado cômico do acontecimento da letra. Esta
modificação, que inicialmente aborreceu Adoniran Barbosa, faz ganhar o festival
musical e proporciona um tremendo sucesso da música em âmbito nacional.
Adoniran Barbosa se
transforma em um cronista da realidade e esplendido músico, após deixar seus
estudos e passar muitas necessidades. Será Adoniran um “anti-herói” por isso?
Pelo contrário, ele, assim como toda a população pobre, são os verdadeiros
heróis ao sobreviverem à barbárie e exclusão social que o sistema capitalista
proporciona.
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