A Violência
Contra Povos Indígenas
Semana
passada estávamos começando a desenvolver o tema da Diversidade.
Mas por vários acontecimentos e apelos do povo indígena Guarani e Kaiowá sobre o genocídio que continua a ocorrer e só vem a piorar, resolvemos ajudar em meio de divulgação para que saibam o que está acontecendo com esse povo.
Mas por vários acontecimentos e apelos do povo indígena Guarani e Kaiowá sobre o genocídio que continua a ocorrer e só vem a piorar, resolvemos ajudar em meio de divulgação para que saibam o que está acontecendo com esse povo.
''Há omissões inexplicáveis por parte do governo e da Justiça que violam a
legislação e direitos fundamentais de indígenas inscritos na
Constituição Federal, na legislação infraconstitucional, em acordos e
pactos internacionais dos quais o Brasil signatário.
Dessa forma, no Mato Grosso do Sul há o encurralamento de várias comunidades indígenas em pequeno espaço de terra, onde sofrem miséria, fome, discriminação, racismo e ameaça de morte.
Há um genocídio indígena em curso desde a década de 1990.
Os assassinos das lideranças indígenas não são punidos e a impunidade alimenta as violências contras os indígenas.
Essa disputa pela terra entre os indígenas e os fazendeiros vai muito longe ainda''
Dessa forma, no Mato Grosso do Sul há o encurralamento de várias comunidades indígenas em pequeno espaço de terra, onde sofrem miséria, fome, discriminação, racismo e ameaça de morte.
Há um genocídio indígena em curso desde a década de 1990.
Os assassinos das lideranças indígenas não são punidos e a impunidade alimenta as violências contras os indígenas.
Essa disputa pela terra entre os indígenas e os fazendeiros vai muito longe ainda''
Tonico Benites.
Abaixo veremos a carta que o povo indígena pede o fim do genocídio.
Carta dos
Conselheiros Guarani e Kaiowá da Aty Guasu para o Presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
Caro Presidente Paulo Pimenta,
nós conselheiros da Aty Guasu, Grande Conselho do povo Guarani e Kaiowá,
representando os mais de 45.000 indígena de nossa etnia no Mato Grosso do Sul,
escrevemos este documento para dizer que depositamos em suas mãos e na Comissão
de Direitos Humanos uma grande esperança. Que contamos com os senhores como
poucos aliados que temos contra todo o abuso e os crimes que o Estado e o
próprio Governo vem cometendo contra nosso povo. Esta mesma Esperança temos
guardado ao longo de séculos de descaminhos, de beira de estradas, de direitos
negados e de terras roubadas.
Desde a invasão de nossos
territórios, em 1500 temos enfrentado um desmonte permanente e continuo de
nossos territórios tradicionais. No mato Grosso do Sul, para que o latifúndio
pudesse prosperar, nos jogaram em Reservas apertadas, em reformatórios e campos
de concentração indígena quando não mataram e destruíram povos e aldeias
inteiras. Hoje nossas demandas de terra não chegam a dois por cento do Estado
do Mato Grosso do Sul.
Entre nós Guarani e Kaiowá, em
nossas lendas antigas, falamos de homens que se transformam em outros homens,
mulheres em outras mulheres ou até humanos que se transformam em animais. Estes
seres se transformam no outro, mas continuam sendo os mesmos seres, nas mesmas
almas. Assim temos visto as autoridades brasileiras: o terno se transforma na
farda, a mesma farda da ditadura militar, a farda se transforma no chapéu e no
cinto do fazendeiro e assim seres diferentes que são na política o mesmo ser,
esmagam nosso direito. Hoje a caneta de um juiz tem o peso do pau de arara, da
arma que nos atira para matar e até mesmo da voz rude do despejo de nossas
comunidades pela polícia. Hoje a caneta é igual a espada, é um veneno pra nós.
Sabemos que tudo se parece porque
na verdade tudo anda igual ou pelo menos está articulado. Começa pelo Poder
Executivo que hoje através da própria presidência paralisou nossas demarcações
e tem nos atacado através da AGU e do Ministério da Justiça. Isso fortalece
nossos piores inimigos que hoje estão vestidos de parlamentares, mas que
continuam sendo latifundiários ou aliados destes. Eles usam da estrutura do
Congresso para atacar criminosamente a constituição federal, nossos direitos e
os direitos dos povos e grupos que se colocam no caminho da monocultura. Por
fim, o Judiciário, com a segunda turma do STF desmontando nossas terras já
demarcadas, como Guyraroká, Arroio Korá, Taquara, Sombrerito. Todos estes
setores atacam nossos direitos mais sagrados. A terra ancestral que para nós é
nossa mãe, nossa benção e o futuro não apenas nosso como de toda a humanidade.
Com isso temos vivido aqui no
Mato Grosso do Sul, um cerco permanente de violência. Nós lideranças somos
caçados dia e noite e para lutar pelos nossos direitos temos, mesmo que nos
mantendo vivos, desistir de nossas vidas. Não podemos ter acesso às cidades,
ter tranquilidade, nem pensar em futuro com nossos filhos e família. O número
de Guarani e Kaiowa mortos pelos fazendeiros ou pelo Estado permite comparações
com tempos de guerra.
O senhor deve ter acompanhado o
que aconteceu a nossos parentes Terena em Miranda, mais ao Norte do Estado. Um
fazendeiro que sempre ameaça as lideranças deste povo simplesmente disparou
contra indígenas que estavam em seu roçado. Um Terena ainda encontra-se no
hospital com bala em seu corpo. Estes crimes são diários e de sabedoria
pública, mas quase em todos os casos nada é feito para proibir tais crimes
praticados de maneira aberta e intencional.
Não temos segurança em nossas
terras localizadas próximas a fronteira com o Paraguai. A Força Nacional nem ao
menos tem conseguido garantir contingente que passe por nossas terras para
evitar o ataque dos pistoleiros. Estamos abandonados a nosso próprio destino.
Com isso nosso povo chora, sofre,
morre, desaparece. Hoje falam em democracia. Escutamos atentos tanta coisa ser
falada pelo branco, porém o que vocês chamam de democracia para nós tem gosto
semelhante ao da colonização e da ditadura, e o gosto em nossas gargantas
continua como o de sangue, nosso sangue.
As comissões da verdade têm
demonstrado os crimes que o Estado cometeu e comete com nós, mas ainda assim o
Estado e o Governo insistem em nos penalizar com “Marco temporal”,
“Renitente Esbulho”, “controvérsia possessório jurídica”, pelos crimes que eles
cometeram contra os povos indígenas do Brasil. Podemos não entender essas
palavras, mas entendemos e denunciamos seu significado. Significam a morte dos
povos indígenas do Brasil.
É preciso senhor presidente, que
o Governo cumpra com sua responsabilidade e com a Constituição Federal de 1988.
Primeiramente reforçando a Funai e efetivando o atual presidente interino, a
quem atribuímos nossa confiança, ao cargo efetivo da instituição. Precisamos da
Funai fortalecida para que continuem a montagem dos GTs para identificação e
estudo de nossas Terras. Ao mesmo tempo precisamos que politicamente estes
estudos sejam reativados pelo Executivo.
Veja o caso de Apyka’i. Mais uma
vez a comunidade se encontra frente ao despejo. Depois de tanto sofrimento,
depois de mais de 12 mortes diretas, famílias inteiras já receberam ordem para
serem removidas e sabemos que só sairão mortas de Apyka’i. Por causa da falta
de estudo não temos defesa na justiça que possa salvar esta nossa comunidade
tradicional da beira da estrada e do extermínio. Com o mesmo destino e
sofrimento de Apyka’i, existem muitos outros acampamentos e quase todas as
Terras Indígena da região de Dourados.
Para evitar este estado
permanente de cercamento e genocídio é preciso também publicar os relatórios
dos seis “Peguá” (regiões de estudo), para enfim avançarmos e conquistarmos
nosso direito ao acesso a Terra de maneira tranquila. Em muitas outras Terras
necessitamos da publicação das Portarias declaratórias que depende do Ministro
da Justiça e da homologação da Presidência da República.
Se o Governo cumprir a
Constituição e demarcar nossos territórios tradicionais, resolverá a situação
de massacre que estamos sofrendo, caso contrário só restará ao nosso povo a
luta direta através de nossas retomadas e não recuaremos na luta pela nossa
vida, mesmo sabendo que isso significa a morte de milhares de nosso povo.
O pior e mais criminoso dos
ataques contra nossos direitos vem hoje do Judiciário. A suspenção das portarias
e homologaçõesdemarcações de terras indígenas já consolidadas. Esta é uma
declaração de Guerra do Estado Brasileiro contra os povos indígenas. Este fato
nos faz afirmar que nos, povos indígenas estamos vivendo um dos piores períodos
de toda a história.
Na história ficarão as marcas das
atitudes dos senhores e de seus governos. Lados que parecem certos agora, ao
lado dos grandes senhores do agronegócio serão apontados num futuro como o
extermínio dos filhos da terra, da floresta e do Brasil. Nossos rezadores nos
dizem isso quando ficam doentes por ver seu povo e o que estão fazendo contra
nós.
O Senhor e a Comissão de Direitos
Humanos escutaram nosso chamado. Seus olhos enxergaram aqui um povo à beira do
genocídio físico e cultural. Somos gratos pela vinda dos senhores, pelo apoio e
por isso em esperança lhe pedimos que nos apoiem em derrotar a PEC 215, a PL
1216 e muitos outros ataques abertos a nossos direitos e a Constituição. Que
nos apoie também em não deixar os juízes do Supremo desmontar nossas terras já
conquistadas com o sangue e a histórias de nosso povo e que por fim nos ajude a
fazer o Ministério da Justiça e a Presidenta a cumprir com suas
responsabilidades e demarcar nossas terras como manda a Constituição de 1988.
Pedimos que assim como nossos
lideres antigos fazem, que o senhor conte nossa história, denuncia nossa
situação, ajude a fazer o mundo e o país a entender o que estão fazendo contra
nossos povos. Pois devemos por respeito a nossos filhos e velhos e por respeito
a este planeta dizer que não morreremos quietos e esquecidos, e que se o
governo não cumprir o que deve, retomaremos todos os nossos territórios e
morreremos batalhando por nosso direito. Isto não é ameaça presidente, é nosso
grito de basta e nosso mais forte apelo.
Nós povos indígenas tomamos ainda
uma decisão. Nossos lideres que tombarem e morrerem durante as retomadas não
ficarão esquecidos em cemitérios na beira das rodovias ou esquecidos nos fundos
de fazendas. Levaremos seus corpos e os enterraremos na explanada dos
ministérios para que mesmo dentro das estruturas do poder em Brasília possam
ver as cruzes que vemos todos os dias e meditar sobre suas ações e as
consequências dos crimes que o Estado e Governo cometem todos os dias.
http://nacaoindigena.com/
http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/04/essa-disputa-pela-terra-entre-os-indigenas-e-os-fazendeiros-vai-muito-longe-ainda/
“Frente
ao processo de genocídio, promovido historicamente pelo governo brasileiro, não
temos nada a comemorar no dia do índio”
Tonico Benites
Tonico Benites
Equipe Blog do Maurício
Evelyn
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